Saga #01


Saga #01


Roteiro: Brian K. Vaughan         

Desenho: Fiona Staples     

Letras e Designe: Fonografiks    

Editora: Image Comics

Data de publicação: 14/03/2012

(Contêm spoiler)


Um famoso escritor certa vez aconselhou pretendentes ao ramo que, referindo-se a livros, se a história não prender o leitor nas primeiras páginas, dificilmente ele, o leitor, continuará sua leitura. Obviamente a dica é válida, mas não se pode levar como certeza já que muitos livros ganham força com o desenrolar da trama, sem necessariamente ter um bom  começo (o contrário também se aplica e muito). Porém pensando em outras formas de expressão artística, como no caso dos Quadrinhos e Séries de Televisão, um bom começo é essencial, pois necessitam, em sua grande maioria, fisgar os leitores/audiência  que continuarão a comprar/assistir a série, pois, na forma como a maioria da indústria em questão funciona, exige-se um mínimo de vendas/audiência necessária para o não cancelamento da obra (diferentemente do livro que, já comprado, no máximo o pretenso leitor irá abandonar a leitura mas poderá retorná-la em outra ocasião). Pois bem, e quando se trata de começar uma série com o "pé direito", Brian K. Vaughan sabe fazer isso como poucos nos Quadrinhos atuais. Saga #01, sua nova criação tida como um épico de ficção científica, é um grande demonstrativo disso.

Na trama de Saga Alana e Marko formam um espécie de Romeu e Julieta interplanetário. Ela é de Landfall, maior e tecnologicamente mais avançado planeta da galáxia, pertencente a uma entre tantas outras raças que lá habitam, diferenciando-se a sua por terem pequenas asas. Já ele é de Wreath, que funciona como o satélite lunar de Landfall, lugar de raças com chifres e poderes mágicos. Os dois planetas estão em guerra entre si há muito tempo, mas, como um depende do outro para se manter em órbita, as batalhas são feitas em outros lugares da galáxia, como no caso Cleave, local onde Marko e Alana se conhecem e do nascimento de Hazel, filha do casal e narradora da história. Obviamente o amor dos dois é ilegal e levará a punições, coisas leves como pena de morte. Logo, a salvação deles parece ser fugir e se esconder em outra região da galáxia. A única forma, aparentemente, irá depender de lendas locais como a que versa sobre a confusa, aos olhos de forasteiros, Spaceship Forest, que deduzindo-se pelo nome (Floresta da Espaçonave em tradução livre) deve conter o veículo capaz de tira-los dali, além de ser habitada pelos temíveis mas desconhecidos Horrors. Assim eles partem em busca dessa esperança. Paralelo a isso uma caçada ao casal dissidente é iniciada, e em ambos os fronts. Pelo planeta de Alana é designado o príncipe guerreiro Robot IV, um ser humanoide com corpo de humano mas onde deveria haver uma cabeça há um televisor, e do mundinho lunático de Marko quem ficou com essa missão foi The Will, um caçador de recompensas freelancer, com aparência de humano, que conta com o auxílio de um felino com a habilidade de detectar mentiras conhecido como Lying Cat. Suas ordens são bem claras, eliminar o casal e trazer o recém-nascido, contudo ele não estará sozinho pois.outro caçador, ainda desconhecido, foi contratado para com o objetivo.


Em entrevistas na San Diego Comics Con 2011, época e local em que foi anunciado a série pela Image Comics, Vaughan disse que a ideia para Saga já vinha desde a infância e amadureceu quando se tornou pai pela segunda vez, além de descrevê-la com humor de "Star Wars para pervertidos". A influência/admiração por Star Wars não é novidade no trabalho de Vaughan já que várias referências e piadinhas nerds sobre o maior clássico de ficção científica foram feitas em outras criações dele ou através de sua participação, a partir da quarta temporada, em Lost, a cultuada série de televisão. É só lembrarmos do personagem Hurley, preso através de uma viagem no tempo involuntária, nos anos finais da década de 1970, e aproveitando para rescrever, a sua maneira, o roteiro do O Império Contra-Ataca, segundo filme da série e que só seria lançado em 1980. Porém, nessa nova criação a influência é levada muito mais a fundo, permitindo a elaboração de todo um universo particular, como ficou evidente na descrição da história, com novas raças, planetas e suas geografias, tramas políticas (onde percebeu-se por parte de muitos críticos uma certa influência de Game of Thrones, a série de livros de fantasia medieval que é um mega sucesso contemporâneo)  e afins. É aí que entra a excelente colaboração da arte de Fiona Staples para dar vida a imaginação do autor.

Na grande maioria das vezes os desenhistas de quadrinhos não necessitam de fazer grandes modificações nas histórias em que trabalham. Isso se aplica muito bom ao pensarmos no universo dos super-heróis como no caso da Marvel e DC, já que a maioria dos personagens vive em lugares conhecidos do nosso mundinho (principalmente Nova Yorke nas histórias da Marvel), ou em cidades imaginárias mas baseadas em cidades reais como no caso de Gotham City e Metropolis. A coisa se modifica um pouco quando falamos em universos de ficção científica fora do planeta terra, como é o caso de Saga. Obviamente nem tudo é uma criação original nessas temáticas, já que existem vários e vários clichês sobre planetas habitados por extraterrestres, bem como sua geografia não tão peculiar. Porém a gama de opções aumenta, ficando a cargo da imaginação dos criadores povoar suas planetas da forma que quiserem, com suas próprias lendas e formas políticas, e isso sempre causa uma grande expectativa nos fãs do gênero, principalmente quando essa criação vem de autores extremamente criativos, como é o caso dessa série. Percebe-se que o designe dos personagens, suas roupas, as paisagens dos planetas, suas construções, as cores e outros detalhes, foram feitos de uma forma muito elaborada, resultando em várias cenas impressionantes. Inclusive alguns vezes após as (re)leituras acabei passando um tempo apenas observando os desenhos, as cenas, os detalhes, principalmente aqueles que envolviam a geografia do lugares em que se desenrolaram as histórias. Sem dúvidas isso demonstra um pouco do grande trabalho apresentado por Staples nessa primeira edição.



Vale ressaltar a inciativa da Image Comics que publicou essa edição #01 contendo 44 páginas, o dobro de um gibi normal, pelo preço de $ 2,99  (preço esse que irá se manter, por contrato, durante todas as edições da série) e sem anúncios de propaganda entre as páginas, algo pouco comum no mercado mainstream de quadrinhos. Sem dúvidas isso foi um diferencial que proporcionou um maior desenvolvimento inicial da trama.

Com diálogos ágeis e engraçados, personagens cativantes, uma trama envolvente, muito bem construída , misturando humor, suspense, ação e uma dose grande de fantasia, somado a excelentes desenhos, Saga #01 é uma ótima estreia e atesta o retorno de um dos melhores escritores de quadrinhos da década passada, afastado desde 2010 quando encerrou Ex-Machina, naquela que parece ser sua criação mais ambiciosa desde o clássico Y: The Last Man há dez anos atrás.

Bem vindo de volta Brian, sentimos muito a sua falta.


Comentários

  1. Excelente matéria!!!

    nunca tinha ouvido falar desse título, mas torço pra q algum dia seja publicado aqui no Brasil!!!

    Abs!!!

    ResponderExcluir
  2. Obrigado pelo elogio, Léo.

    A série é recente, começou a ser publicada agora em março nos Estados Unidos e está apenas na edição de número 04. Logo irei publicar um texto sobre a #02 (as outras duas ainda não chegaram).

    ALiás, tenho quase certeza que ela também será publicada no Brasil, pois tem tudo para ser um ótimo gibi e ainda conta com o nome de Brian K. Vaughan, escritor que cada vez mais ganha fãs por aqui. Ainda mais agora que duas das melhores séries dele estão sendo completadas na Brasil (no caso Y e Ex Machina, que sempre vira notícia no seu blog).

    O porém fica por conta que talvez vá demorar um pouco, já que é uma série da Image. Sendo assim dificilmente alguma editora brasileira vai publicar antes de ter uns três ou quatros tp's lá fora e lançar as edições mensais, sem ser em tp, é muito raro de acontecer no nosso mercado quando não é algo Marvel/DC e não se encaixa em um mix.

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas